a fragilidade do tempo

me pego pensando sobre o tempo. é curiosa a maneira como dias vêm e vão, meses começam e acabam, assim, tão rápido e corriqueiro. o ano se inicia e logo nos vemos diante de seu breve fim, e então o reinício de um próximo. é tão instantâneo, tanta pressa envolvida. e é muito fácil nos queixamos de não termos feito nada, ou sequer o suficiente. que nossos momentos foram vagos e vazios. com frequência nos deparamos com algo logo à porta e nos assustamos em como o tempo passa. tudo é tão frágil, os anos, meses, semanas, dias, horas, minutos... parece que tem sido tão curto nossos momentos. eu me lembro claramente que quando criança era tudo tão longo. as férias eram enormes, o período letivo levava uma eternidade para concluir-se, as tardes se estendiam e se estendiam, meu aniversário parecia nunca chegar. hoje, quando me dou conta, passou-se tanto, como se os ponteiros do relógio escorressem entre meus dedos (tenho a impressão de que escutei isso em alguma música). certa vez li versos que diziam que o tempo não voa, pois se voasse, em certo momento se cansaria e iria dar uma pausa (perdoem a falta de créditos, mas foi um poema no wattpad), e concordo. ele me aparenta mais um ser indefeso, que em sua fragilidade é derrotado por... não sei, o presente? pela vida? pela nossas próprias mãos inconscientes, talvez? acho que tudo depende de como nós o encaramos, com o que nos ocupamos e a forma como nos ocupamos; o que é prioridade e o que nos preenche constantemente. fiquei bem mais reflexiva sobre depois que assisti o documentário o dilema das redes, porque me deixou assustada com o uso que costumo dar ao meu tempo, as distrações, a imersão na tecnologia. acabei por dar certo afastamento de muitas coisas que estavam me sugando, consumindo tanto produtividade quanto descanso também. às vezes eu precisava deitar apenas, e não colocar um episódio de série para preencher aqueles minutos que não deveriam ser deixados em vão. sabe, a gente tá tão acostumado a ficar cercado pela frenesia do mundo que a calmaria soa como um grande tédio (a quarentena trouxe muito dessa sensação para bastante gente também). outro grande responsável, imagino, por eu estar  pensando na vida corrida versus vida mais leve é o fato de estar lendo anne de green gables. se encontrar envolvida em um período da história onde não existia a loucura da nossa realidade atual, onde tempo era tão grandioso e duradouro... me faz pensar sim em como pode ser diferente se tirarmos o pé do acelerador e buscar um ritmo mais tranquilo. bem, particularmente, é algo que almejo. gosto de buscar momentos de qualidade, seja no descanso, seja produzindo. é uma grande questão de equilíbrio, de priorizar o que é realmente importante, de escolhas. o tempo é frágil, e cabe a nós portarmos com cautela e carinho essa preciosidade que não possui direito a reembolso. 

abraços,

any.

imagem utilizada no design não é de minha autoria.